As discussões sobre objetos de
aprendizagem ganharam força com a expansão da internet e, mais especificamente
no início deste século com a necessidade de se criar
recursos/interfaces/atividades para/com a implementação da EAD no Brasil. Recursos esses que tomaram forma e são entendidos
por muito estudiosos como objetos de aprendizagem, por características
abordadas logo a seguir.
Desde então, pelo que se tem estudado
não há um consenso para a definição do que venha a ser exatamente um objeto de
aprendizagem. Nota-se diferenças de conceitos e de nomenclatura que variam de
acordo com os grupos que estudam, o entendimento de pesquisadores do assunto e
sobretudo com o enfoque pedagógico que é dado na produção dos objetos.
Os conceitos são carregados de concepções históricas ou
ideológicas. Cito como conceito histórico o cunhado por Wiley (2000) e muito
comumente utilizado, para quem objeto de aprendizagem é “Qualquer recurso
digital que possa ser reutilizado e ajude na aprendizagem”. Desse conceito
destaco três aspectos que considero importantes para o entendimento do que sejam,
nesta lógica, objetos de aprendizagem: o primeiro é que precisam ser
“digitais”, logo qualquer artefato ou recurso criado utilizando tecnologia
analógica pode ser entendido como recurso pedagógico, material
didático-pedagógico ou qualquer outro nome, mas que definitivamente não se
enquadraria na concepção de O.A. ou O.D.A. (Objetos Digitais de Aprendizagem)
como também e, a meu ver mais adequadamente, já foram chamados. O segundo aspecto
envolve a prerrogativa do reuso, o que indica que na sua construção, os objetos
apresentem características, apontadas por TAROUCO et al, 2003) como: generalidade,
granularidade, adaptabilidade escalabilidade, flexibilidade... que favorecem a
remixagem e a reutilização do todo ou partes, sem perder suas características
essenciais, seu sentido e sua função. Por fim, o terceiro aspecto é a aplicação
pedagógica ou sua utilização com fins pedagógicos o que pode, atribuir sentidos
ao seu uso, tornando-os não necessariamente mais atrativos, mas bastante
funcionais.
Há algumas definições mais amplas que consideram não apenas o digital como objetos de
aprendizagem. Uma das mais conhecidas é a do Learning Objects Metadata Workgroup, um grupo especializado em estudos e
catalogação de metadados para objetos de aprendizagem; para quem "qualquer
entidade, digital ou não digital, que possa ser utilizada,
reutilizada ou referenciada durante o aprendizado suportado por tecnologias",
pode ser entendido como O.A.
A despeito das diferenças conceituais
e das discussões se somente digitais ou não, são entendidos como objetos de
aprendizagem, há duas características sobre as quais parece haver consenso
entre todos os pesquisadores: a característica do reuso (flexibilização e
possibilidades de reutilizar em diversos contextos ou situações) e a aplicação
na educação, como suporte à aprendizagem. Sobre esta ultima característica,
levanto uma questão que ainda não me parece muito clara, conceitualmente
falando, mas que será apenas mais um elemento de sequencia de pesquisas: Um objeto de aprendizagem essencialmente nasce
com fins educacionais ou ele pode, mesmo criado sem esta finalidade,
constituir-se em tal?
Há, naturalmente muito a se considerar
sobre o assunto; desde o processo de concepção, criação, passando pela
validação, armazenamento (repositórios), compartilhamento, uso e avaliação. Vou
pausar essas considerações refletindo um pouco e bem superficialmente sobre a
estrutura de boa parte dos objetos de aprendizagem que encontramos nos nossos
repositórios. Embora muitos já apresentem propostas mais interativas,
inovadoras, fluidas e inteligentes, muitos deles foram e são construídos numa
lógica totalmente linear e é comum perceber ranços do behaviorismo de Skinner
com foco no associacionismo, na lógica do condicionamento operante e na instrução
programada, com respostas pré-programadas e esperadas na solução de enigmas ou
problemas propostos. Muitos dos objetos seguem a lógica cartesiana, muitos
limitam as ações e reflexões e primam pela repetição mecânica dando pouca ou
nenhuma possibilidade de ação e interação.
A elaboração dos objetos de
aprendizagem, assim como toda a ação pedagógica é embasada por teorias
epistemológicas que permeiam toda a nossa formação/ação e permanecem arraigadas,
justificando e alicerçando a visão de mundo e de educação de quem produz,
valida, usa e reusa os objetos de aprendizagem. É, conforme Paulo Freire, a
perspectiva da não-neutralidade inerente ao ato de educar – um ato político,
por assim dizer.
RECOMENDO, A TÍTULO DE COMPLEMENTAÇÃO...
A entrevista com César Nunes, educador que desenvolveu o projeto Objetos de
Aprendizagem na Escola do Futuro da USP. Clique no link:
Referências (bases de leituras):
FREIRE, Paulo.
Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa. São
Paulo, Brasil: Paz e Terra, 1997. TAROUCO, Liane M. R. et al. Alfabetização visual para a produção de objetos educacionais. Disponível em: < http://www.cinted.ufrgs.br/renote/set2003/artigos/artigo_anita.pdf>. Acesso em:
15 fev. 2006.
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