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terça-feira, 13 de março de 2012

Bauman e a Modernidade Líquida

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman apresenta em seu livro Modernidade Líquida (escrito no final da década de 90 e lançado em 2001 no auge do boom tecnológico com a “expansão” da internet) as transformações pelas quais a sociedade vem passando em relação à vida pública e privada, estados e instituições sociais, relacionamentos, trabalho e a relação tempo – espaço, utilizando a metáfora da liquefação.
O dinamismo e flexibilidade da modernidade imediata assemelham-se à leveza e fluidez dos líquidos que não “fixam o espaço e nem prendem o tempo”, antes porém se adaptam e se moldam conforme o recipiente no qual estejam contidos, suplantando, segundo Bauman, a modernidade sólida, inflexível e presa ao espaço e à forma inicial, necessitando de forças para se moldar a novas formas. Essa transição trouxe mudanças em todos os aspectos da vida, alterando as relações sociais e a vida em comunidade.
A análise dessa liquidez é feita pelo autor em cinco capítulos que abordam os seguintes tópicos: a emancipação, a individualidade, o tempo e espaço, o trabalho e a comunidade.
No capítulo que trata do tempo e espaço, Bauman, faz uma análise da vida (o estar juntos) em comunidade – a “última relíquia das utopias”. Vida esta, nos dias de hoje, protegida por cercas, câmeras, guardiões,... e recheada de ações, inclusive iniciativas públicas, de tornar cada vez mais os lugares mais seguros, entretanto menos livres.
A relação entre os seres é permeada pela insegurança e pela sensação de conspiração, tornando o bem estar e “o viver juntos” uma utopia a ser conquistada. A cidade não passa de um aglomerado onde acontecem os encontros sem passado e sem futuro, de pessoas estranhas que não tem nenhum compromisso e afinidade e que talvez nunca virão a ter.
O espaço, ainda que de forma simplista é entendido como aquilo que se pode percorrer em determinado tempo e o “tempo” pode ser compreendido como o que se precisa para percorrer este espaço. O tempo, associado naturalmente a uma história, delineia a modernidade e esta quanto mais líquida e fluida amplia os espaços com o desenvolvimento de softwares e máquinas e faz com que cada vez mais caibam coisas dentro do tempo.
A vida humana parece balizada sempre entre dois parâmetros ou dois pilares, que muito mais se opõem ou contradizem do que se completam: o passado e o futuro, o bem e o mal, o permitido e o proibido, o seguro e o inseguro, o durável e o transitório,... Mas há que se considerar que viver numa modernidade líquida requer mais que flexibilidade e dinamismo; implica em contribuir para que a vida em si, com seus muitos afazeres, não perca sua utilidade e seu sentido.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001 (prefácio e cap. 3).
Para conhecer mais sobre o tema, assista à entrevista com Zygmunt Bauman. Vale a pena!

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